
(Arthur Bispo do Rosário)
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A loucura (ou seria o excesso de realidade?) marcou a coleção de Francisco Matias no Dragão Fashion, em que o sertão ganha ares de urbe cosmopolita em uma visita autoral à vida e à mente de Arthur Bispo do Rosário. Máscaras trançadas, com longos punhos, pareciam representar a linha tênue entre a sanidade e a loucura e traziam um elemento de desconforto que tornou a coleção ainda mais interessante.
Os complexos bordados tecidos pelo dito esquizofrênico paranóide e a sua obsessão pela organização perfeita de elementos ao longo da superfície de seu trabalho transformaram-se em vestidos e blusas de drapeados arquitetônicos e trançados. A estamparia mantém a pegada artística e adiciona ares descolados do grafite a maxi t-shirts com ombros marcados (novamente uma tendência toureador se faz presente, com os punhos acentuando os ombros).
O modo de vida do sertanejo, lembranças de Bispo do Rosário do seu Sergipe natal, transparece nítido nas cores, principalmente tons terrosos (indícios da areia do sertão e do barro que mancha as vestes do trabalhador que lavra a terra) e nos acessórios, bolsões semelhantes aos usados pelos cangaceiros e saltos altíssimos e poderosos, os quais recordavam os tamancos das avós-sinhás que habitavam os casarões patriarcais do passado. Os vestidos foram um destaque na coleção, rasgados, desestruturados ou com ombros bem marcados (notaram as mangas super bufantes? Mark Greiner também teve na sua coleção.), em uma coleção que pode ser definida, em termos bem rasos, cangaço meets punk.
A contemporaneidade do estilo de Francisco Matias, sempre atual, garante com que a sua coleção, de inspiração bem brasileira e folclórica, não caia na pecha do "exótico" ou do "nordestino" e mantenha a funcionalidade de suas peças.





















Fotos: Nathiara Paulo
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