Mulher-Paisagem (adoro esse conceito do estilista) e Lady Gaga encontram-se em uma festa. As duas estão embriagadas e misturam suas roupas no banheiro. Roteiro bizarro, mas é dele que parece ter surgido a nova coleção de Mark Greiner.
Brincadeiras à parte, saiba só de uma coisa a respeito da coleção: é incrível. O estilista sabe criar o clima de seu desfile, revestindo-o de uma aura de peça teatral ou de performance artística. A representação antes do desfile, com a colocação de luzes no cenário, insinuava que, a partir daquele momento, seria presenciada a formação de uma história, ausente de palavras, mas rica em imagens. Pena que o primeiro dia não teve muito espaço para a criação de uma atmosfera mais envolvente nos espaços das coleções (recordando agora Alexander Mcqueen e seu último desfile-espetáculo e Jum Nakao e a Costura do Invisível). Alguém já percebeu que os desfiles estão cada vez mais "práticos", "minimalistas", "funcionais" e menos "incríveis", "de cair o queixo", "impressionantes"? whatever.
Embaladas pelo barulho estremecido de tambores de um mantra indiano, mulheres-pássaro, mulheres-armadura, mulheres-natureza surgem na passarela, suas formas extravagantes são um espetáculo à parte. De repente, um ecossistema de brilhos e de estilos se formou na passarela em que essas espécies estupefaram a todos com vestidos justíssimos em degradê, com silhuetas super estruturadas (aqui pudemos sentir a influência de algumas coleções internacionais passadas, como a da Balmain) e transparências (por sinal, a tendência mais observada no primeiro dia, presente em quase todas as coleções). Armaduras cintilantes formavam verdadeiras carapaças de artrópodes, protegendo essa mulher guerreira do tempo e tornando-a eterna, como o mundo. As coroas tornavam as modelos rainhas indígenas de povos protegidos pelo mistério do mundo de que apenas eles têm ciência. Tantas referências podiam ser observadas que não é possível classificar a coleção em étnica, apesar de haver elementos de diversas culturas colocados nas vestimentas, ou em futurista, apesar das formas exageradas, retas e arquitetônicas.
A formação de arquiteto de Mark Greiner mais uma vez mostra seu grande valor, gerando verdadeiras esculturas móveis em que o surrealismo se concretiza em realidade e extravasa nossas sensações humanas. Não se está discutindo aqui se é uma coleção usável ou não, principalmente porque ela não é, e porque esse não é o objetivo do designer, mas como a capacidade de um criador pode chegar a níveis que transcendem o limite dos meros "regionalidade" ou "exotismo", criando uma coleção cosmopolita e ausente de fronteiras criativas.
Fotos: Nathiara Paulo
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