quarta-feira, 6 de outubro de 2010

INVASÃO SUECA + ANNA VON HAUSSWOLFF

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POP: Seu pai (Carl Michael von Hausswolff) é um renomado artista, visual e sonoro. A presença dele influenciou a sua produção musical e seu processo criativo?
Anna:
Não em minha arte, porque isso é algo que estive desenvolvendo comigo mesma. Eu não cresci com meu pai. Mas, claro, ele me influenciou como uma pessoa cultural. Ele é muito ativo no mundo das artes e isso me deu um empurrão também, mas eu e meu projeto, é o meu próprio universo que estive aprimorando através dos meus amigos, da minha geração e do meu trabalho. Ele faz parte das muitas influências que tenho, mas, claro, ele é meu pai e eu o amo.

POP: Você já esteve envolvida em outros projetos antes de estrear em carreira solo?
Anna:
Antes do meu projeto solo, eu toquei em uma banda, nós não tínhamos um nome e nem havíamos tocado em um estúdio. Nós éramos uma banda, mas não existíamos para a mídia ou para o público. Éramos uma banda, tínhamos ensaios, mas, infelizmente, nos separamos. Mas isso me fez crescer, porque tive de fazer as coisas sozinha a partir daquele momento, sem ter que me comprometer, sem ter que pedir a permissão de ninguém. Eu me rebelei na minha própria forma de pensar. Diz muito a respeito de fazer os meus próprios limites desaparecerem.

POP: Você falou um pouco sobre estar em uma banda e ir em uma nova direção, voltando-se para um novo projeto, nesse caso, a sua carreira solo. Que tipos de projetos você gostaria de estabelecer no futuro?
Anna:
Agora estou focada na minha carreira solo, é nisso em que acredito no momento, mas eu posso mudar minha cabeça em uns dois anos, não sei. Mas é nisso em que acredito agora.

POP: E como você descobriu sobre o Projeto Invasão Sueca?
Anna:
Eu o descobri a partir da agência responsável pelos contratos dos meus shows. Eles perguntaram se eu queria fazer parte desse projeto, de ir ao Brasil e me apresentar para uma plateia completamente nova, dona de uma cultura com a qual nunca tive contato e também de conhecer outras bandas suecas fantásticas. Eu não podia dizer "não" a isso, mas não conhecia nada a respeito do projeto antes desse primeiro contato.

POP: Em quais cidades você tocou antes de chegar em Fortaleza? Alguma cidade favorita?
Anna:
Não tenho uma cidade favorita, na verdade, muito tem a ver com o sentimento contido em cada plateia. É difícil dizer, acho que não consigo responder essa pergunta (risos).

POP: E como tem sido a sua experiência no Brasil?
Anna:
As pessoas aqui parecem muito calorosas e confortáveis consigo mesmas. Você não precisa se preocupar com cada palavra que você diz, as pessoas são muito espontâneas e têm a mente aberta, o que me afeta e me faz tentar ser uma pessoa com a mente mais aberta também. Também nunca vi esse tipo de natureza antes e isso faz com que eu tenha raiva de mim mesma, faz com que eu me prenda em minha própria cabeça. Quando eu vejo vocês, vejo o lugar onde vivem, eu me volto para mim e vejo a Suécia e Copenhague, sinto esse sentimento melancólico e nostálgico. As pessoas são tão felizes e receptivas, elas dançam e cantam comigo e sentir essa melancolia me deixa pra baixo.

POP: Falando um pouco de influências, de quais artistas e músicas você gosta mais?
Anna:
Há sempre novos artistas chegando até mim dos quais eu gosto. Mas existem alguns artistas em particular aos quais eu tenho tendência a voltar quando eu sinto que estou me perdendo. São artistas com os quais eu tenho uma história, uma história que eu não possuo com artistas novos que eu encontro o tempo todo, e com os quais eu cresci: Patrick Smith, PJ Harvey e Radiohead, Thom Yorke. Grandes artistas, na verdade.

POP: E sobre as suas músicas, para qual público você toca ou qual público você pretende atingir com as suas músicas?
Anna:
Acredito que todos devem ser capazes de ouvir minha músicas, em níveis diferentes. Quero dizer, alguns amam, alguns odeiam. Mas é incrível descobrir essas pessoas que conseguem se conectar com os sentimentos que eu possuo em minha alma, mas, esse é o meu mundo, as pessoas devem construir o seu próprio mundo através da minha música, algo que eu não conheço. As pessoas veem coisas que eu não vejo. Por isso, não posso estabelecer um tipo específico de pessoa ou de plateia, porque, mesmo se eu dissesse uma determinada audiência, mesmo dentre as pessoas dela existiriam milhares de diferentes mundos musicais, então não posso categorizar as plateias.

POP: Quando você está sozinha, apenas você e seus instrumentos, para quais lugares e mundos você vai para produzir a sua música, que se apresenta de uma forma tão emocional e instigante?
Anna:
Começa com um sentimento que eu talvez não seja capaz de expressar em palavras ou que talvez eu seja capaz de expressar em palavras, mas não cresceu em mim ainda, então eu tento chegar até esses sentimentos e, quando o momento é propício, eu vou ao piano e eles estarão lá. Com a ajuda do meu piano e da minha voz, tento alcançar essas emoções, quero dizer, depende de qual dia eu estou, se esse sentimento permanecesse o mesmo o tempo inteiro, eu estaria aprisionada em minha forma de pensar conservadora e tradicional, então é como uma pequena semente que está crescendo dentro de mim e fica cada vez maior e maior. Então, quanto mais eu toco, mais raízes a minha música ganha. Você pode ver minhas canções como árvores que crescem através de mim.

POP: Você é uma pessoa muito inspirada, que escolheu a música como uma maneira de se expressar para o mundo. Para um músico a imagem ajuda a construir a forma como o artista quer ser percebido pelas audiências que quer atingir. As suas fotos e as suas imagens são muito bem produzidas. Com que tipo de artistas você trabalha para que eles ajudem a criar a sua imagem musical?
Anna:
Eu sempre trabalho com pessoas que conheço, porque sei que elas me conhecem e entendem exatamente como penso. Há uma complexidade dentro de mim, como em qualquer pessoa nesse mundo, que apenas pessoas próximas podem capturar e transmitir da forma mais simples possível, de uma forma que ninguém mais pode. Tenho que trabalhar com pessoas com quem eu me sinta confortável. Quero sair com ele ou ela e tomar uma xícara de café por duas horas e, se não houver uma ligação, nós não trabalhamos. Mesmo se essa pessoa for a melhor na área, eu não poderei continuar, porque o resultado final será apenas dela, não terá meu trabalho nele. E isso é uma cooperação, uma troca. Não tenho uma imagem típica, uma única maneira de agir, depende de cada indivíduo com quem eu trabalho e eu gosto de ouvir o que eles têm a dizer, sentir o que sentem.

POP: Vamos falar um pouco sobre moda, que também é uma forma de expressão. O seu estilo é bem clean e cuidadoso. Que tipos de roupas você gosta de usar?
Anna:
Quando estou tocando ao vivo em uma apresentação, ou talvez sempre, eu acho, gosto de roupas que simbolizem algo ou que me lembrem de algo. Essa blusa que estou usando eu ganhei do meu namorado na Dinamarca e é de uma cadeia de lojas de Estocolmo. Não sou fashionista, gosto de usar peças que façam com que eu me sinta confortável. E gosto também de um pouco de humor.
¨Fotos - Tina PauloFotos - Fernando Sant'anna

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